I

Revisão de 'TRAJAN AND THE ORIGINS OF ROMAN HOSTILITY TO THE JEWS'

Trajano e as Origens da Hostilidade Romana aos Judeus

Introdução

  • Os romanos construíram seu império através da liderança militar bem-sucedida, influenciando suas relações com os judeus.
  • A relação inicial dos romanos com os judeus era semelhante àquela com outros povos do Mediterrâneo Oriental, mas se tornou tensa a partir do século I d.C.

Desenvolvimento da Relação Romano-Judaica

  • O primeiro contato ocorreu no século II a.C. devido às ambições políticas romanas.
  • Em 200 a.C., Roma controlava a costa ocidental do Mediterrâneo após a derrota de Cartago na Segunda Guerra Púnica.
  • Generais romanos intervieram nos reinos helenísticos da Macedônia, Grécia, Ásia Menor, Síria e Egito.
  • Em 31 a.C., após a Batalha de Actium, o Egito caiu sob domínio romano, estendendo o poder de Roma por todo o Mediterrâneo.
  • O sistema político de Roma evoluiu para um sistema autocrático sob Otaviano (Augusto em 27 a.C.).
  • Os imperadores romanos precisavam cultivar uma imagem pública forte, geralmente associada a vitórias militares.

Os Judeus no Segundo Século a.C.

  • Os judeus viviam principalmente na Judéia, centrada em Jerusalém e seu Templo.
  • Havia uma diáspora significativa no Levante, Egito, Líbia, Ásia Menor e Mesopotâmia.
  • Comunidades judaicas se estabeleceram mais a oeste, incluindo Roma (em 62 a.C., Cícero mencionou suas tentativas de influenciar um julgamento).
  • Afluxo de escravos judeus aumentou a comunidade em Roma no final do século I d.C.
  • Jerusalém era uma cidade próspera antes de sua destruição em 70 d.C., devido ao seu papel religioso e destino de peregrinação.
  • Após a destruição do Templo de Salomão em 586 a.C., alguns judeus retornaram sob o rei persa Ciro.
  • Jerusalém se tornou um centro religioso, com poder político concentrado nos Sumos Sacerdotes que controlavam o Templo.
  • A combinação de religião e política causou conflitos, como o ataque do rei selêucida Antíoco Epifânio (175-164 a.C.).
  • A família macabeia liderou a resistência contra os selêucidas e estabeleceu a dinastia hasmoneia.

Jerusalém sob os Hasmoneus

  • A história de Jerusalém sob os Hasmoneus é bem documentada por Flávio Josefo, um sacerdote e político judeu.
  • Inicialmente, os Hasmoneus hesitaram em assumir o Sumo Sacerdócio, buscando confirmação do suserano selêucida.
  • Por volta de 129 a.C., eles operavam independentemente, aproveitando o enfraquecimento do poder selêucida devido aos avanços romanos.
  • No final do século II e início do século I a.C., os Hasmoneus se estabeleceram como governantes judeus em estilo helenístico, expandindo a Judéia através de mercenários.
  • Em 63 a.C., Roma interveio: Pompeu ofereceu ajuda militar a um Hasmoneu contra outro e transformou o Sumo Sacerdote Hircano II em um governante cliente.
  • A partir de 63 a.C., Roma frequentemente interveio nos assuntos da Judéia.
  • Em 40 a.C., a Judéia foi invadida por um exército da Pártia durante a guerra civil romana.
  • O senado romano nomeou Herodes, um idumeu, como rei da Judéia. Ele manteve o controle com repressão até sua morte em 4 a.C.
  • Após a morte de Herodes, revoltas eclodiram, e a incapacidade de seu filho Arquelau de manter a ordem levou à sua substituição por um governador romano em 6 d.C.

Governo Romano Direto e Revoltas

  • O governo romano direto na Judéia continuou, exceto por um breve período (41-44 d.C.) sob Agripa I.
  • A revolta de 66-70 d.C. resultou da dependência de Roma em aristocratas ricos como governantes locais e tensões sociais devido à distribuição desigual da riqueza trazida para a Judéia por razões religiosas.
  • A revolta também expressou um desejo de libertação religiosa e nacional.
  • A derrota levou à demolição do Templo, o centro da identidade judaica, e ao fim da próspera sociedade centrada nele.
  • Após 70 d.C., as fontes rabínicas mencionam academias focadas na lei judaica, mas fornecem poucas informações sobre a sociedade em geral.
  • Evidências epigráficas sugerem a transferência de uma segunda legião para a província no final do governo de Trajano ou no início do de Adriano, possivelmente devido à insurreição da diáspora ou temores de revolta.
  • Em 132 d.C., uma grande revolta liderada por Shimon bar Kosiba (Bar Kochba) eclodiu, resultando em sua supressão em 135 d.C.

Judeus na Diáspora

  • As comunidades da diáspora contribuíram para a manutenção do Templo.
  • Em 40 d.C., uma embaixada de Alexandria apelou ao imperador Calígula para impedir a instalação de uma estátua de si mesmo no Templo de Jerusalém.
  • A maioria dos judeus da diáspora manteve-se à margem da guerra de 66-70 d.C.
  • As comunidades da diáspora tentaram se distanciar dos eventos na Judéia, embora nem sempre com sucesso (ex: pogroms em cidades como Antioquia e Alexandria em 66 d.C.).
  • As histórias dessas comunidades são menos detalhadas do que as da Judéia antes de 70 d.C.
  • Flávio Josefo preservou documentos relacionados aos judeus da Ásia Menor na época de Júlio César e Augusto.
  • Filósofo Filo escreveu sobre as experiências traumáticas da comunidade alexandrina.
  • Outras fontes incluem inscrições, papiros, arqueologia e comentários de autores não judeus.
  • Algumas comunidades, como as da Ásia Menor, prosperaram até o século V d.C.
  • Judeus em Roma foram sujeitos a expulsões ocasionais, geralmente temporárias.
  • Violência urbana entre judeus e gregos em Alexandria resultou da história peculiar da cidade e da presença de uma legião romana.
  • A violência em 115-117 d.C. nas comunidades judaicas de Alexandria, Egito, Cirene e Chipre foi uma exceção.

Atitude Romana em Relação à Diversidade Religiosa

  • Os romanos sabiam que a lealdade dos judeus da diáspora ao Templo envolvia transferência de fundos.
  • A ambiguidade dos termos latinos iudaeus e grego ioudaios levou o estado a aplicar o mesmo tratamento a todos os judeus, independentemente de sua localização.
  • A administração provincial romana visava manter a paz e extrair riqueza, sendo tolerante com a variedade social e cultural.
  • O Império Romano abrangeu diversas culturas e religiões, sem exigência de conformidade a um modelo romano.
  • Judeus e cristãos eram únicos em sua crença em um Deus que não tolerava adoração a outros deuses.
  • Os cristãos enfrentaram perseguição por se recusarem a participar do culto comunitário, enquanto os judeus eram melhor tratados.
  • O estado romano aceitou a adoração exclusiva de um Deus como um tabu peculiar dos judeus, merecendo aceitação.

Judeus e o Templo de Jerusalém

  • O judaísmo floresceu neste clima de tolerância multicultural.
  • Práticas como a circuncisão e a observância do sábado eram vistas como bizarras, mas o sacrifício no Templo era familiar aos pagãos.
  • O Templo de Jerusalém se destacou por seu tamanho e peregrinação em massa.
  • No período helenístico, essa concentração de riqueza tornou o Templo impressionante para os visitantes estrangeiros, como Políbio.
  • A reconstrução do local por Herodes aumentou o número de peregrinos que podiam ser acomodados.
  • As comunicações facilitadas pela Pax Romana permitiram que judeus de toda a diáspora fossem ao Templo.

Mudança na Relação Romano-Judaica

  • A questão central é por que a relação de tolerância se desfez entre o século II a.C. e a revolta de Bar Kochba em 135 d.C.
  • Inicialmente, os judeus da Judéia viam Roma como um aliado em sua busca por tolerância religiosa e independência nacional.
  • Eventualmente, os judeus foram impedidos de praticar sua adoração ancestral no Templo.
  • As explicações para essa marginalização enfatizam as tendências rebeldes dos judeus e atitudes herdadas da literatura grega anti-semita.
  • Alguns judeus viviam pacificamente sob o domínio romano, e alguns romanos viam o judaísmo e os judeus com favor.
  • A hostilidade do estado romano em relação aos judeus resultou da auto-imagem projetada por uma série de imperadores entre 69 d.C. e 135 d.C.
  • A figura pública de Trajano foi de importância crucial.

Judéia Antes da Primeira Revolta Judaica

  • A análise das relações judaico-romanas foi influenciada pelos eventos do século I d.C., incluindo a revolta da Judéia de 66-70 d.C., conforme descrita por Josefo.
  • Antes da revolta, havia poucos episódios de violência registrados.
  • Os romanos não viam os judeus como particularmente ameaçadores, embora pudessem encontrá-los peculiares ou repulsivos.
  • A grande população judaica em Roma geralmente prosperava em paz.
  • As expulsões periódicas visavam manter a ordem durante tempos de tensão política, e não especificamente os judeus.
  • O estado romano estava despreocupado com a possibilidade de revolta na Judéia, como evidenciado pela nomeação de Agripa I e pela falta de uma forte presença militar.
  • Os judeus eram autorizados a se reunir em Jerusalém em grande número durante as festas de peregrinação.
  • Mesmo diante da resistência em massa em 40 d.C. ao plano de erguer a estátua de Caio no Templo, o governador da Síria hesitou em usar a força.
  • Os romanos não esperavam a insurreição como um perigo geral.

Consequências da Primeira Revolta Judaica

  • Em 66 d.C., os romanos acreditavam que o objetivo era restabelecer o culto judaico, uma vez que a rebelião foi marcada pela decisão dos sacerdotes de parar de oferecer sacrifícios em nome do imperador romano.
  • Após a destruição do Templo, o imperador Vespasiano deixou claro que ele não seria reconstruído num futuro próximo.
  • Josefo afirmou que a destruição do Templo foi um acidente que Tito tentou evitar.
  • Tito escolheu capturar Jerusalém por meio de um ataque em grande escala, em vez de cercar a cidade, a fim de obter uma vitória de propaganda.
  • Vespasiano precisava de uma grande vitória para legitimar seu governo após a guerra civil.
  • O novo regime retratou a destruição como uma culminação brilhante de sua campanha.
  • Utensílios do Templo foram desfilados no triunfo de Tito e exibidos no novo templo da Paz.
  • A Judaea Capta foi retratada em moedas, e os judeus foram obrigados a pagar um imposto anual especial para a reconstrução do templo de Júpiter em Roma.

O Reinado de Domiciano

  • Domiciano não participou diretamente da campanha da Judéia, mas enfatizou a glória da vitória.
  • Ele dedicou o Arco de Tito e lançou moedas com a legenda Judaea Capta.
  • Svetônio registrou a severidade com que o tesouro sob seu governo cobrava o imposto judaico.
  • Domiciano era hostil aos judeus, o que fazia parte de sua busca por credibilidade como imperador.
  • Segundo Cassius Dio, em 93 d.C., ele condenou seu primo Flavius Clemens por ateísmo porque ele estava "à deriva em costumes judeus".
  • Sob Domiciano, "judaizar" era um termo geral de opróbrio para inimigos do estado.

O Reinado de Nerva

  • Após o assassinato de Domiciano, Nerva distanciou-se do regime anterior.
  • Nerva não havia participado da campanha da Judéia e os judeus esperavam um novo começo.
  • Nerva proclamou um novo começo para Roma, incluindo moedas com uma palmeira e o anúncio de Wsci iudaici calumnia sublata.
  • As moedas foram produzidas em várias edições no outono de 96 d.C. e no primeiro semestre de 97 d.C.
  • O significado preciso de Wsci iudaici calumnia sublata não é claro, mas pode se referir à correção de um ato injusto pelo tesouro ou à abolição do imposto judeu.
  • Os judeus esperavam que o imposto, único na história romana, fosse abolido.
  • Outra interpretação é que a acusação maliciosa trazida contra todos os judeus pelo tesouro dedicado ao imposto judaico foi removida.
  • No sistema jurídico romano, evitar acusações maliciosas só seria possível garantindo que não houvesse nada de que alguém pudesse ser acusado.
  • As moedas de Nerva ilustram que ele nada tinha a ganhar com a hostilidade para com os judeus, e o otimismo judaico refletiu-se no Contra Apionem de Josefo.
  • O Contra Apionem, uma obra apologética, é melhor compreendido como um sintoma do otimismo judaico com a suspensão do apoio estatal à retórica anti-judaica sob Nerva.

O Reinado de Trajano

  • O otimismo judaico foi de curta duração, pois a série de moedas proclamando a reforma do sistema de cobrança do imposto judaico de Nerva chegou ao fim por volta de meados de 97 d.C.
  • A adoção de M. Ulpius Traianus (Trajano) por Nerva em novembro de 97 d.C. marcou uma mudança.
  • Trajano enfatizou as conquistas de seu pai como justificativa para sua própria elevação ao principado.
  • M. Ulpius Traianus pater comandou a legião X Fretensis na Judéia durante a guerra de 66-70 d.C.
  • A ligação de Traianus com o Flavianos era forte, e seu apoio era vital para o plano de Vespasiano.
  • A premiação de um consulado em 70 d.C. é prova de sua lealdade aos Flavianos.
  • Trajano deificou seu pai em 112 d.C., enfatizando a visão flaviana da guerra judaica como um grande triunfo para Roma.
  • Se a cobrança do imposto judaico havia parado sob Nerva, agora recomeçou.
  • Trajano estabeleceu uma grande reputação militar, mas não houve diminuição do preconceito contra os judeus.
  • Até mesmo a possível ironia de Tácito, os insultos anti-judeus devem ser encontrados nas Histórias de Tácito.

Revoltas e Consequências

  • A reação natural dos judeus à destruição do Templo em 70 d.C. foi dor, penitência e esperança pela restauração do santuário.
  • Medidas de controle eram possíveis e menos propensas a produzir hostilidade judaica perigosa do que uma recusa total de tolerar um novo Templo.
  • Em 115-117 d.C., revoltas irromperam em Cirene, Chipre, Egito e Mesopotâmia. Autores antigos não fornecem nenhuma razão para isso e as motivações dos judeus incluíram depressão e privação do santuário.
  • A repressão da revolta causou grande perda de vidas.
  • O estabelecimento de uma segunda legião permanente na Judéia em torno de 117 d.C. sugeriu suspeita romana de futuros levantes judaicos.
  • Houve uma ligação entre esse suspeito e as causas da guerra de Bar Kochba em 132 d.C.
  • O potencial judiaico para fazer barulho no Egito e em Cirene foi imediatamente reprimido após 70 dC e o templo judaico em Leontópolis, no Egito, foi fechado em 72 dC.
  • O imposto judaico especial coletado pelo Judaicus blame foi implicitamente culpado pelos judeus pela revolta judaica de 66-70 d.C., onde quer que vivessem, mesmo que a maioria dos judeus da diáspora estivesse envolvida na guerra.
  • O estado romano respondeu ao levante da diáspora de 115-17 d.C. fortalecendo a guarnição da Judéia.

O Reinado de Adriano e a Solução Final

  • Nenhuma fonte antiga conecta diretamente a revolta da diáspora sob Trajano em 115-17 d.C. com o surto da Rebelião da Barra de Kochba na Judéia em 132 d.C., no entanto Trajano havia tratado os tumultos da diáspora como algo que a Judéia também poderia se rebelar contra.
  • Após assumir o principado, a solução completa para o problema judeu para Adriano esperaria até que ele se estabelecesse firmemente no poder em Roma contra considerável oposição entre os senadores superiores.
  • Medidas provisórias foram tomadas: revolta seria desencorajada das duas legiões permanentemente estabelecidas na Judéia (e uma na Arábia) e as inscrições sobreviventes mostram que o dinheiro foi gasto para reparar o dano físico deixado para trás em Cyrenaica.
  • A administração de Adriano mudou o império tentando impor mudanças durante suas viagens por províncias e em 128-30 d.C. ele visitou a Judéia e colocou em operação sua solução final para a rebelião judaica.
  • Com a terminologia encontrada em fontes antigas, eu me refiro à supressão das comunidades da diáspora rebelde em 117 d.C. como a "solução final".
  • Trajano "exterminou" a raça judaica no Egito, e Adriano garantiu que os judeus não pudessem ter um templo em seu local sagrado em Jerusalém, fundando uma miniatura de Roma no local da cidade santa dos judeus.
  • A solução de Adriano era construtiva e pacífica, em vez de heróica e gloriosa: Adriano renunciou a grandes campanhas militares.
  • O centro da rebelião judaica em 66-70 d.C. era Jerusalém e a extinção da cidade traria um fim a essa rebelião, seja ela na Judéia ou na diáspora.

Aelia Capitolina

  • Aelia Capitolina, fundada provavelmente em 130 d.C., era uma colônia romana e não uma nova pólis grega construída para judeus helenísticos.
  • Nenhum judeu, por mais aculturado que fosse à sociedade grega ou romana, pode ter saudado a nova colônia com qualquer prazer, pois era explicitamente destinada ao assentamento de raças estrangeiras e ritos religiosos estrangeiros.
  • Esses ritos eram deliberadamente romanos e Aelia Capitolina foi a última das colônias romanas que envolveram o transplante de uma nova população para estabelecer a cidade.
  • Dentro da grande política de reconstrução urbana de Adriano, com a fundação de muitas cidades, Aelia Capitolina foi única em seu uso da nova colônia não para bajular, mas para suprimir os nativos.
  • A fundação de uma nova colônia, Aelia Capitolina, foi, como disse Dio, a causa imediata da guerra de Bar Kochba
  • A política de Adriano confirmou aos judeus que não haveria a restauração de seu Segundo Templo como havia havido cerca de cinquenta anos após a destruição de seu primeiro.
  • A revolta se proclamou em suas moedas como "para Jerusalém" e quando a rebelião foi esmagada em 135 d.C., com o uso de enormes forças romanas, o passo final foi expulsar os judeus de sua terra natal completamente.