Bio pat tema 1: Causas de Lesão Celular

  • O que é hipoxia e como difere da isquemia?

    Hipoxia: défice de oxigénio no geral

    Isquemia: redução acentuada do fluxo sanguíneo, que causa hipoxia + défices nutricionais + acumulação de metabolitos tóxicos

  • Como as células respondem inicialmente à hipoxia através do HIF-1?

    • Ativam mecanismos compensatórios regulados pelos fatores HIF-1

    • Promovem síntese de proteínas glicolíticas para adaptação à anaerobiose

    • Produzem VEGF para restituir/aumentar a vascularização

  • Quais são as 4 principais consequências da hipoxia prolongada?

    1. Redução da atividade da bomba Na+/K+ → acumulação de sódio → aumento osmolaridade → dilatação celular

    2. Acumulação de ácido lático → diminuição pH → disfunção enzimática

    3. Disrupção da síntese proteica (desassociação de ribossomas do RER)

    4. Disrupção das membranas celular, mitocondrial e lisossomal

  • O que é ischemia-reperfusion injury e por que ocorre?

    • Agravamento do dano tecidual após restituição do fluxo sanguíneo

    • Causado por: produção excessiva de ROS e aumento da inflamação

    • Comum em isquemia cerebral e cardíaca

  • Como as toxinas podem causar lesão celular?

    • Poluentes ambientais (metais pesados, gases, inseticidas)

    • Substâncias normalmente inócuas em excesso (glucose, sal, água, oxigênio)

    • Resultado: disrupções celulares levando à necrose

  • Como funciona o UPR (Unfolded Protein Response)?

    1. RE detecta acúmulo de proteínas mal dobradas

    2. Célula produz mais RE e proteínas chaperone

    3. Se persistir sobrecarga → ativação de apoptose

  • Relação do UPR com diabetes mellitus tipo 2

    1. Os tecidos ganham resistência à insulina.

    2. Para compensar, as células-beta do pâncreas produzem mais insulina.

    3. O RE destas células chega à sua capacidade máxima, altura em que o UPR pode desencadear apoptose.

    4. As células beta que cometeram apoptose fazem que seja exigida às outras células beta uma atividade ainda maior, o que aumenta a probabilidade de estas também cometerem apoptose, agravando progressivamente a doença.

  • Quais são as principais causas de lesão celular por agentes infeciosos?

    1. Proliferação do agente infecioso

    2. Produção de toxinas

    3. Podem causar morte por apoptose ou necrose (mais comum)

  • Como as reações imunológicas podem causar lesão celular?

    • Reações autoimunes

    • Alergias

    • Hipersensibilidade a microrganismos

    • Produção de substâncias citotóxicas por células imunitárias

  • Principais causas de lesões celulares

  • O que são adaptações celulares e quando ocorrem?

    As células podem sofrer adaptações no seu número, tamanho, fenótipo, metabolismo e/ou funções quando expostas a estímulos ambientais. Estas adaptações podem ser:

    • Fisiológicas (despoletadas por hormonas ou fatores mecânicos)

    • Patológicas (alterações para enfrentar fenômenos agressores)

  • Quais são os principais tipos de adaptação celular?

    Existem 3 modelos principais:

    1. Aumento da atividade celular (hipertrofia e hiperplasia)

    2. Diminuição da atividade celular (involução e atrofia)

    3. Alteração da atividade (metaplasia)

  • O que é hipertrofia e quais são suas causas?

    Hipertrofia é o aumento do tamanho das células (por aumento produção proteínas estruturais e organelos). Principais causas:

    • Estimulação hormonal

    • Aumento das responsabilidades funcionais

    • Fatores de crescimento

  • Mecanismos bioquímicos hipertrofia

    -Hipertrofia fisiologica - Sensores mecânicos

    -Hipertrofia patologica - Agonistas e fatores de crescimento

    .-ANF (Fator natriurético atrial); GATA4 ( fator de transcrição que se liga à sequência GATA de DNA); IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina); NFAT (fator nuclear de células T ativadas); MEF2 (fator estimulador do miócito 2).

  • O que é hiperplasia e quais seus tipos?

    Hiperplasia é o aumento no número de células de um tecido através da proliferação. Tipos:

    1. Fisiológica:

    • Hormonal (ex: epitélio mamário na gravidez)

    • Compensatória (ex: regeneração hepática, após nefrectomia unilateral, medula óssea em resposta a falta de eritrócitos)

    1. Patológica:

    • Por excesso de estimulação hormonal (ex: hiperplasia prostática, endometrial) - prolif cancros

    endometrial - causa frequente de hemorragias fora do período menstrual (metrorragias)

  • Hiperplasia próstata

    -Hiperplasia no epitélio glandular (colunares células altas abundantes, as quais são subjazidas por células basais aplanadas). Também no estroma fibromuscular deste órgão, fazendo com que a próstata aumente. Aumento à custa da formação de nódulos, visíveis à superfície (compactos ou com tecido glandular no seu interior).

    -Muitas vezes, estas glândulas encerram secreções calcificadas (concreções prostáticas). Este crescimento nodular do órgão comprime a uretra e dificulta a micção. Nestes casos, como há mais dificuldades a iniciar a micção, a bexiga tem de contrair mais. Logo, células musculares lisas da sua parede sofram hipertrofia, tornando-se mais grossas e aspeto de trabéculas ou colunas. Assim, a hiperplasia prostática é muitas vezes acompanhada de hipertrofia vesical (bexiga em colunas).

  • O que é atrofia e quais suas causas?

    Atrofia é a redução do tamanho das células devido à: ↓ Atividade metabólica celular

    ↓ Síntese proteica ↑ Degradação de proteínas Causas:

    • Fisiológicas: cerebral (envelhecimento), imobilização (muscular), menor estimulação hormonal (após menopausa: mama, endometrio, epit vaginal), estruturas embrionárias, útero pós parto, timo em adulto jovem

    • Patológicas: perda de inervação, diminuição do aporte sanguíneo, malnutrição (Caquexia) no cancro, muscular


    • Via da ubiquitina-proteossoma → ↑ Degradação de proteínas • Autofagia → formação grânulos de lipofuscina (corpos residuais) → cor acastanhada às células atrofiadas (Atrofia castanha, comum em tecidos sob estresse crônico, como no envelhecimento)

  • O que é involução?

    Involução é o decréscimo no número de células de um tecido através da apoptose. Ocorre em:

    • Membranas interdigitais durante o desenvolvimento

    • Útero durante a menstruação

    • Órgãos linfoides durante o envelhecimento

  • O que é metaplasia e como ocorre?

    Metaplasia é a substituição de um tipo celular diferenciado por outro mais adaptado ao estímulo adverso. Características:

    • É estável e duradoura

    • Pode ser reversível se o estímulo for removido

    • Ocorre principalmente pela alteração do percurso de diferenciação das células estaminais Exemplos:

    -Metaplasia pavimentosa (epit. colunar → epit. pavimentoso) • Trato respiratório (tabaco; défice de Vit A) - epit pseudoestratificado ciliado das vias respiratórias é progressivamente substituído por epitélio estratificado pavimentoso, mais resistente e com uma maior tolerância relativamente às toxinas presentes no fumo do tabaco. • Cálculos em dutos excretórios de glândulas salivares, pâncreas e dutos biliares

    • Colo do útero (fisiologica) - substituição das células colunares do endocolo por células pavimentosas do exocolo (impedir excreção de algumas das glândulas cervicais; o entupimento” destas glândulas faz com que os seus produtos de excreção se acumulem no seu interior, originando os quistos de Naboth, que geralmente não causam sintomas a não ser que sejam tantos e tão grandes que comprimam o colo. Apesar de não ser patológica, esta metaplasia favorece o aparecimento de neoplasias, uma vez que o epitélio pavimentoso é mais propício à proliferação e oncogenicidade do HPV.

    -Metaplasia colunar (epit. pavimentoso → epit. colunar com células caliciformes) • Esófago de Barrett (metaplasia intestinal)- nos indivíduos com refluxo gástrico crónico, o epitélio estratificado pavimentoso do esófago pode passar a colunar semelhante ao do estômago/ intestino, com glândulas semelhantes às destes órgãos e abundância de células caliciformes. (pode mais tarde resultar em adenocarcinoma)

    -Metaplasia mesenquimatosa (formação de cartilagem, osso ou tecido adiposo em tecidos que normalmente não contêm estes elementos) • Myositis ossificans, devido a trauma (músculo→ osso)

  • Excesso de Peso e Obesidade

    • Acumulação excessiva de triglicéridos nos adipócitos

    • Influenciada por fatores genéticos, ambientais, comportamentais e psicológicos

    • Predispõe para diabetes tipo 2, dislipidemia, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro

  • Esteatose

    • Acumulação de triglicéridos em células parenquimatosas

    • Mais comum no fígado (esteatohepatite)

    • Fatores de risco: obesidade, diabetes, álcool, hepatites virais

    Progressão da doença:

    1. "First hit": acumulação de triglicéridos

    2. "Second hit": peroxidação lipídica e formação de ROS

    3. Pode evoluir para cirrose

  • Xantomas

    • Acumulação de foam cells nos tecidos periféricos

    • Resulta de níveis elevados de colesterol

    • Manifesta-se como nódulos amarelados na pele e tendões

    • Nas pálpebras chamam-se xantelasmas

  • Glicogenoses

    • Doenças genéticas (geralmente autossómicas recessivas) que afetam enzimas do metabolismo do glicogénio

    Tipos principais:

    • Hepáticas: hipoglicemia persistente

    • Miopáticas: afetam músculo esquelético

    • Doença de Pompe (tipo II): sistémica, afeta múltiplos órgãos e leva a morte muito precoce por falência cardiorrespiratória

  • Corpos de Mallory Denk

    Acumulações proteicas intracelulares, correspondem a emaranhados de filamentos intermédios (muitas vezes marcados com ubiquitina) que se acumulam sobretudo em torno do núcleo, sendo característicos da esteatohepatite.

  • Amiloidose

    -Grupo de doenças caracterizadas pela acumulação nos tecidos de depósitos de proteínas mal formadas e insolúveis (fibrilas amilóides)

    Tipos principais:

    • AL (Amyloid Light Chain): cadeias leves de imunoglobulinas

    • AA (Amyloid-Associated): derivada da proteína SAA

    • Aβ (β-amyloid): derivada da proteína precursora amiloide

    Formas clínicas:

    • Primária: distribuição sistémica

    • Secundária: associada a inflamação crônica

    • Familiar: inclui PAF (Polineuropatia Amiloidótica Familiar)

  • Principais tipos pigmentos:

    • Melanina - pigmento proteico endógeno

      -produzido pelos melanócitos e captado pelos queratinócitos, cuja principal função é limitar a penetração dos raios UV através da pele. Presença é fisiológica, mas pode associar-se a patologias:

      • Vitiligo: hipopigmentação localizada em certas zonas do corpo.

      • Albinismo: hipopigmentação generalizada, corpo não produz melanina. Não só a pele, mas também os pelos e os olhos são desprovidos deste pigmento.

      • Melanomas: tumores malignos derivados dos melanócitos e que geralmente se manifestam através de sinais hiperpigmentados com bordos mal definidos e de crescimento relativamente rápido. • Hemocromatose

      -corada especificamente pela coloração de Fontana-Masson.

    • Lipofuscina: pigmento do envelhecimento celular

      -insolúvel

      -cor castanha amarelada em colorações com H&E, ou avermelhada em colorações com PAS. - acumulação é fisiológica em vários tecidos, desde o coração ao fígado e ao SNC.

      -resulta da peroxidação, catalisada por ROS, dos lípidos polinsaturados das membranas dos organelos, pelo que geralmente se correlaciona com a idade e o desgaste da célula (quanto mais velha, mais ROS terá produzido pelas suas vias metabólicas e mais lipofuscina terá)

      -melanose coli - doença marcada por grandes acumulações de lipofuscina nos macrófagos da parede intestinal, o que se deve à destruição aumentada dos enterócitos deste epitélio.

    • Hemossiderina: derivado da hemoglobina

      -normalmente, o ferro é armazenado no interior das células conjugado com a proteína apoferritina, formando micelas de ferritina.

      -são grandes agregados destas micelas e a sua visualização é sugestiva de patologias relacionadas com o metabolismo do ferro, como a hemocromatose. Contudo, este pigmento também pode ser observado em condições fisiológicas nos órgãos em que os eritrócitos senescentes são degradados (baço, fígado e medula óssea).

      -coloração de azul de prússia/ de Perls, é particularmente útil para o diagnóstico da hemossiderose, sendo que a ferritina aparece a azul.

    • Carbono: em antracose pulmonar

      -acumulação de carbono escurece os nódulos linfáticos e o parênquima

      -tipicamente benigna, tendo reduzido impacto na função pulmonar. Numa percentagem reduzida de casos, ocorre fibrose muito exuberante, levando a hipertensão e disfunção pulmonar.

      -típica dos mineiros de carvão.

      -inicialmente: visíveis máculas de carbono correspondentes a agregados de macrófagos presentes nos alvéolos e nas paredes alveolares;

      -quando progridem para fibrose: lesões são compostas quase inteiramente por densos feixes de colagénio e pigmentos de carbono com obliteração do lúmen dos bronquíolos respiratórios e distorção da arquitetura alveolar.

  • Calcificação patológica - Tipos

    • Metastática: associada à hipercalcemia (afeta sobretudo as paredes dos vasos, os pulmões, os rins, o fígado e o coração)

    • Distrófica: em tecidos danificados ou mortos

    -A nível microscópico, estas calcificações surgem inicialmente como focos intensamente basofílicos nos meios intra ou extracelular; com o tempo, podem alastrar e formar ossos heterotópicos nos focos de calcificação.

    -Cálcio pode ser corado de forma específica pelas colorações Alizarin red e von Kossa.

    Tumor Castanho:

    • Associado a desregulações do metabolismo do cálcio

    • Comum em insuficiência renal crônica (têm pouca produção de vitamina D. logo seu aporte de cálcio através da dieta é muito pobre. A hipocalcemia resultante leva à necessidade de exacerbar a reabsorção óssea, o que aumenta os níveis de cálcio e de fósforo. Leva a hiperfosfatémia com precipitação de cristais de fosfato de cálcio (o que agrava ainda mais a hipocalcemia e gera um efeito de bola de neve); por outro, enfraquece os ossos, levando à ocorrência de microfraturas.

    • Contém tecido fibroso, células inflamatórias, e depósitos de cálcio e acumulações de hemossiderina.

  • O que caracteriza as lesões celulares reversíveis?

    • Inchaço celular por entrada de água

    • Citoplasma mais eosinofílico

    • Distorção da membrana plasmática

    • Inchaço das mitocôndrias

    • Inchaço do RE e formação de vacúolos

    • Acumulação de vacúolos lipídicos

    • Figuras de mielina no citoplasma

    • Alterações nucleares com condensação da cromatina

  • Quais são as alterações morfológicas da necrose?

    • Citoplasma muito eosinofílico

    • Aparência envidraçada e homogênea

    • Dilatação extrema do RE e mitocôndrias

    • Perda de integridade das membranas

    • Alterações nucleares sequenciais:

      1. Picnose (condensação cromatina e encolhimento núcleo)

      2. Cariorrexe (fragmentação núcleo)

      3. Cariólise (digestão completa - DNase digere todo o DNA da célula, de forma que os vários fragmentos do núcleo desaparecem, fazendo com que a célula se torne totalmente eosinófila (núcleo é a principal “mancha” de basofilia nas células).

  • Descreva os diferentes tipos de necrose:

    Necrose Coagulativa:

    • Mantém arquitetura tecidual

    • Comum em isquemia de órgãos sólidos

    • Células eosinofílicas sem núcleo

    • Pode resultar em enfartes brancos ou vermelhos

    • ex.

    Necrose Liquefativa:

    • Comum no SNC e infecções

    • Perda total da arquitetura

    • Formação de cavidade com exsudado inflamatório

    Necrose Gangrenosa:

    • Afeta extremidades

    • Pode ser seca ou húmida

    • Comum em diabetes, queimaduras, frio extremo

    Necrose Caseosa:

    • Típica da tuberculose

    • Aparência queijosa e branca

    • Centro amorfo eosinofílico

    • Ex.

    Esteatonecrose:

    • Destruição do tecido adiposo

    • Comum na pancreatite aguda

    • Lesões amareladas ou esbranquiçadas

    • Ex.

    Necrose Fibrinóide:

    • Deposição de material fibroso

    • Comum em vasos sanguíneos

    • Associada a hipertensão severa e vasculites

    • Ex.

  • Como funciona o processo de apoptose?

    Mecanismo molecular:

    • Ativação de caspases (iniciadores e executores)

    • Regulação por proteínas da família Bcl2

    • Papel do citocromo c e formação do apoptossoma

    • Via dos receptores de morte (death receptors)

    Alterações morfológicas:

    • Condensação e fragmentação nuclear

    • Fragmentação do RE

    • Manutenção da integridade da membrana

    • Formação de corpos apoptóticos

  • Quais são os outros tipos de morte celular?

    Necroptose:

    • Mistura de necrose e apoptose

    • Morte celular programada mas patológica

    Piroptose:

    • Associada ao inflamassoma

    • Causa inflamação e febre

    Ferroptose:

    • Dependente de ferro

    • Causa peroxidação lipídica e formação de ROS

    Cuproptose:

    • Dependente de cobre

    • Causa stress proteotóxico

  • O que é autofagia e qual sua importância?

    • Processo de degradação de componentes celulares

    • Forma autofagossomas que se fundem com lisossomas

    • Aumenta em privação nutricional

    • Importante para:

      1. Reciclagem de componentes celulares

      2. Resposta ao stress

      3. Longevidade celular

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